O festival de inverno de Garanhuns é uma grande sala de aula. Nele, crianças vão se encantar com o circo, com o teatro, com a literatura. Nele, como num imenso ginásio, onde se treina o corpo (assim como acontecia na Grécia antiga), as disposições intelectuais e, principalmente as nossas disposições afetivas, uma multidão vai se encontrar com tudo aquilo que representa a humanitas, ou seja, a educação para a (re) elaboração da natureza humana.
Durante uma parte do inverno será possível nos colocarmos numa espécie de modo educativo, onde exercitaremos princípios fundamentais para o aprendizado de uma forma de vida mais voltada para a democracia, explico: É que o cinema e os debates, a literatura e os debates, a música (que é a poesia dita, falada, como era nos primeiros tempos), o teatro e o poder da catarse, produzem nas pessoas uma espécie de libertação, uma “cura” no sentido Heideggeriano, de tudo aquilo que agride a “essência” humana. Uma espécie de “limpeza” do nosso espírito que resulta no alívio de nossas dores, aquelas provocadas por nossas paixões, nossos afetos, sejam do Eros ou de Thanatos em nós, e nos faz direcionar nosso olhar para nos mesmos com um olhar mais humano.
Como o FIG é um modo educativo? Reorientando e nos dando a oportunidade de entrar em contato com nossas próprias emoções. Fomos formados numa espécie de “aparelho cartesiano” onde a razão é central no processo educativo. Mas, quem educa nossas emoções? Como podemos dar conta dos afetos? Como nos conhecer melhor para poder interagir com os outros?
Assim, interagindo, nos emocionando, rindo, chorando, entrando em estado de apaixonamento, tudo isso através do que o FIG nos proporciona, podemos nos compreender melhor, remanejar nossas emoções, promover processos de “cura”, no sentido de apurar nossas vivências. Em momentos de extravasamento das emoções, de aprendizados significativos para nossas vidas, aprendemos a com-viver, a colocar nossas disposições emocionais no mundo.
O FIG como modo educativo promove catarse e êxtase, catarse como alivio de nossas dores e êxtase como exteriorização, desvelamento do nosso próprio eu para o mundo e para nós mesmos. Somente podendo enxergar melhor nossas emoções podemos nos entender mais e assim promovermos nosso crescimento, nossa maturação, nosso amadurecimento.
Que esse FIG seja essa oportunidade de nos olharmos no espelho das artes, essa oportunidade de olharmos uns para os outros, nos reconhecer, nos entregar, nos amar! Viva o FIG, viva a educação e a possibilidade de entendermos para podermos entender e transformar o mundo.
Pedro Henrique Teixeira | App Guia do FIG
Belíssimo texto.