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Foto do escritorClemente Junio

É preciso saber dançar!



É preciso saber dançar! Duas frases para tentarmos pensar a força do Festival de Inverno de Garanhuns, a primeira: “E aqueles sendo vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música”. Quando Nietzsche proferiu esse pensamento talvez estivesse incomodado com algo que nos diz que a vida tem que ser “séria” (o que é ser sério?), que o riso não traz credibilidade, que o corpo deve ser rígido.


No FIG é comum, pessoas olhando espantadas para quem se diverte. Impressionadas com o desprendimento dos corpos, com o êxtase de quem “sai para fora de si mesmo”, e dança, canta, sorri, se colocando no mundo como alegria, como alguém que, nem que seja naquele momento, exerce sua vontade de potência.


Dançar é mover o corpo na direção da vida, dançar é transformar sons e todas as emoções musicais em movimento. Dançar é dar vida as suas próprias emoções. Dançar é uma suspensão no estado de mal-estar que nos é próprio e inerente. Qual o resultado disso? Vida, vida em abundância, reestruturação de energias para voltarmos à vida “séria” quando o festival acabar. Vamos dançar! Sejamos julgados loucos, eles nunca entenderão o entusiasmo, o êxtase de quem dança. Quem dança rompe as amarras da imobilidade moral que é imposta como padrão de comportamento aceitável, quem dança implode, com dinamite, destrói, com martelo, os padrões que impõem até as formas de “não sermos”.


Não podemos ser o que somos e quem nos julga insanos são exatamente aqueles que não podem escutar a música, escutar a música é abrir a alma à vida, é ter sensibilidade suficiente para abraçar a sua própria existência e dividir a alegria dos corpos com os outros, é partilhar movimento, é influenciar corpos para viver aquilo que podemos chamar de felicidade, eudaimonia (o bom estado de espírito), então dancemos.


A segunda frase: “Sem a música a vida seria um erro”, trago essa frase porque dança e música são quase que a felicidade se desdobrando sobre si mesma. Uma complementando a outra. E se os corpos, por qualquer que seja o motivo, não podem dançar, então que dancem as almas, e se não houver música que cantemos a nossa própria canção, uma canção que diga um sonoro “sim” ao mundo e à vida. A música provoca em nós iniciações que são necessárias à uma vida cheia de exercícios de potência. Uma iniciação à felicidade, que nos faz resistir às tristezas e dores de estarmos vivos, uma iniciação à vida, para entendermos que viver não é estar apenas vivo, mas interferir no mundo para modificá-lo e melhorá-lo, e uma iniciação à filosofia, para sabermos interpretar nossa própria existência e o nosso modo de interferir nela.


Por tanto, dancemos, cantemos e façamos com que aqueles que nos julgam insanos passem a sentir o sabor dos sorrisos e da felicidade. Eles não dançam porque não podem ouvir a belíssima sinfonia que é a vida a cada instante, eles não ouvem porque acham que se pode ouvir com os ouvidos, assim, eles nunca ouvirão. A música, a verdadeira sinfonia da vida só pode ser ouvida com o coração. É que a música, ainda segundo o filósofo alemão, faz as paixões gozarem a si mesmas, portanto, faz a vida florescer naqueles que ouvem a música e dançam.

Tem muita festa ainda pela frente. O FIG está à disposição de quem queira dançar, a música ecoará no ar por muito tempo. É preciso saber ouvir a música. Abra o seu coração.


por Pedro Henrique Teixeira | Guia do FIG






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