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Foto do escritorClemente Junio

Escritoras e poetisas são destaques da programação do #FIG2018


Recitais, lançamentos de livros e debates ocupam a Praça da Palavra, que este ano presta homenagem ao escritor Raimundo Carrero.

Elimar Caranguejo


Cida Pedrosa, secretária de Mulher do Recife, escritora e poetisa, abre um debate importante e intitulado ‘Protagonismo Feminino na Literatura’

Por Marcus Iglesias

Ao propor a liberdade como tema do 28º Festival de Inverno de Garanhuns, a curadoria do FIG joga luz sobre temas importantes, que precisam ser cada vez mais discutidos abertamente, como a igualdade de gênero. Reconhecer privilégios de um lado e buscar soluções para dar o protagonismo necessários e urgentes a outros. Foi pensando nisso que a programação da Praça da Palavra Raimundo Carrero, o polo literário do FIG 2018, traz este ano uma programação que busca dar voz e vez a todxs que produzem literatura no Brasil.

Um dos destaques deste ano é a presença de Cida Pedrosa, secretária da Mulher do Recife, escritora e poetisa, autora de livros como As Filhas de Lilith (2009) e Claranã(2015), que abre um debate importante e intitulado Protagonismo Feminino na Literatura. Os encontros começam no dia 22 de julho e vão seguir ao longo de toda a programação da Praça da Palavra.

Elimar Caranguejo/Secult-PE


Segundo Cida, apesar do título, não é a primeira vez que o FIG trata a literatura feminina com protagonismo. “Eu, por exemplo, já lancei As Filhas de Lilith, num projeto com incentivo do Funcultura e que resultou também no lançamento de 26 curtas inspirados nas minhas poesias. Mas acredito que, com este título sim, é a primeira vez que temos esse debate”, opina ela. Outras autoras que participarão desses encontros são Daniela Galdino (BA), Fernanda Limão (PE), Graça Nascimento (PE) e Ivonete Batista (PE).

Sobre o que o público pode esperar das conversas entre as autoras, Cida fez algumas provocações. “A presença feminina na literatura brasileira é muito recente. No Brasil, a mulher só começou a ir pra escola há 200 anos. Temos uma Academia Brasileira de Letras (ABL) com seis mulheres e uma Academia Pernambucana de Letras com nove. Isso num total de 40 vagas”, explica.

Jan Ribeiro/Secult-PE


O SLAM das Minas PE também atração da Praça da Palavra

“Existe uma pesquisa que eu adoro citar, feita por uma socióloga que analisou 200 romances. Desse total, 75% dos personagens protagonistas eram homens, apenas 15% mulheres e 3% negros ou homossexuais. Estamos lendo o que? Escrito por quem? Com o olhar de quem? São essas coisas que vamos provocar nesses encontros”, revela a poetiza, que elogiou a companheira de debate no dia 22 de julho, a poetisa Daniela Galdino (BA). “Eu só a conhecia pela internet, mas há dois meses tivemos um Sarau no Pasárgada com a presença dela e foi lindo. Ela tem uma poesia emponderada e voltada para a mulher muito interessante, e usa o corpo enquanto espaço de performance. A poesia está no livro, no gesto, na pele e no olhar. É incrível”.

Também na veia poética, no dia 23 de julho, uma atividade inédita aporta no FIG. Haverá uma edição do SLAM das Minas, batalha de poesia voltada para mulheres. Segundo Bell Puã, uma das participantes do SLAM das Minas PE (e que inclusive representou o estado e o país na competição internacional realizada na França, em maio passado), a ideia é fazer um recital entre todas as meninas que já são do movimento.

Renata Pires/Secult-PE


Índia Morena, Patrimônio Vivo do estado, vai lançar um livro sobre sua trajetória no circo durante a programação da Praça da Palavra

“Mas também teremos uma hora com o microfone aberto pras mulheres que quiserem recitar algo, só não vai ser em formato de batalha”, detalha. Além da Bell Puã, participam do SLAM das Minas PE as poetisas Amanda Timóteo, Lilian Araújo, Olga Pinheiro e Patrícia Naia. “Pra gente é uma felicidade muito grande participar de um festival do porte como FIG, que a gente já curtia como público, e agora vamos aproveitar como artistas”, celebra Puã.

Outro destaque é no dia 25 de julho, o Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha, quando haverá o lançamento do livro Dramas Circenses, de Índia Morena, Patrimônio Vivo de Pernambuco. Contorcionista, trapezista voadora, acrobata, cantora, ginasta, e atriz circense são alguns dos atributos da grande dama do circo pernambucano, Margarida Pereira de Alcântara – ou Índia Morena, nome artístico deliberadamente escolhido por serem índios o pai e a avó paterna. No mesmo dia, as Secretarias da Mulher e de Cultura de Pernambuco realizam uma mesa com o Comitê de Mulheres Negras.

Jan Ribeiro/Secult-PE


Quem também confirmou presença no FIG foi Ezter Liu, a grande vencedora do V Prêmio Pernambuco de Literatura com o livro ‘Das tripas coração’ (2017)

Quem também confirmou presença no FIG foi Ezter Liu, a grande vencedora do V Prêmio Pernambuco de Literatura com o livro Das tripas coração (2017). “Participo do Festival em duas ocasiões. Além da Praça da Palavra, no dia 26 de julho, na mesa ao lado dos outros vencedores do Prêmio, estarei também numa edição do Outras Palavras em Bom Conselho, na Escola Cel. José Abílio, no dia 24 do mesmo mês”,comemora a escritora, que após o debate na Praça da Palavra vai assistir, pela primeira, a uma leitura dramatizada feita com alguns de seus contos.

“O tema da liberdade que o FIG traz esse ano gera muito pano na manga pra gente e vocês jornalistas escreverem sobre o assunto. Essa leitura dramatizada de Das tripas coração, por exemplo, está sendo organizada pelo Angu de Teatro, que teve a ideia de adaptar alguns contos para o palco. Vou ficar sabendo de mais detalhes em breve, mas, por enquanto, é uma surpresa”, conta Ezter.

Rodrigo Ramos/Secult-PE


“Essa abertura nesse espaço, e nessa situação, é pra mim muito honrosa e me deixa bastante feliz”, comemora Raimundo Carrero

Homenagem a Raimundo Carrero - Logo na abertura da Praça da Palavra, no dia 21 julho, às 21h, o escritor vai participar de uma conversa com o jornalista Marcelo Pereira sobre o lançamento de sua tetralogia organizada pela Cepe, intituladaCondenados à vida. “É importante destacar que a homenagem, nessas circunstancias, pra mim é muito importante. Nós da literatura sentimos como a mídia em geral se dirige muito fortemente aos artistas ligados a música durante o FIG. Essa abertura nesse espaço, e nessa situação, é pra mim muito honrosa e me deixa bastante feliz”, destaca o escritor pernambucano.

Ele, que adora contar um causo, lembrou logo de uma situação que aconteceu quando ele era presidente da Fundarpe – gestão que encerrou em 1998. “Promovi uma vez um seminário literário que reuniu nomes como José Castello, João Gilberto Noll, Luiz Vilela, pra que se debatesse a questão do livro no FIG. Fizemos isso junto aos cordelistas, e lembro que naquela época, enquanto os escritores se queixavam das vendas nas livrarias, os cordelistas diziam que vendiam todo dia e que nem precisavam ir à praça, pois o povo ia na porta de casa comprar”, relembra.

Rodrigo Ramos/Secult-PE


Além de ser homenageado deste ano na Praça da Palavra, Raimundo vai lançar durante o FIG sua tetralogia organizada pela Cepe e intitulada ‘Condenados à vida’

Além de conversas sobre suas obras como Maçã Agreste (1989), O amor não tem bons sentimentos (2007), Somos pedras que se consomem (1995), eTangolomango (2013), o público pode esperar um bate-papo mais amplo sobre a obra de Carrero. “Vamos conversar sobre minha carreira literária. Pode parecer inacreditável, mas tenho um obra feita, e estou lançado o núcleo da minha obra reunidos sobre o título geral Condenados à vida. São aqueles seres que estão em desacordo com a sociedade e não sabem o que fazer, acabando se comportando à margem. E foi, como sempre, ressaltar a força da literatura pernambucana que merece o maior destaque sempre”, adiantou Raimundo Carrero.

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