Peter Sloterdjik, no seu “Regras para um parque humano”, relata como na Roma antiga os humanistas fizeram uma opção pela cultura para salvar aquela sociedade da violência total. O filósofo alemão dá conta de que os humanistas latinos, preocupados com a animalização do ser, buscavam respostas na cultura para a selvageria que tomava conta daquele império.
Por meio da interpretação da frase de Jean-Paul, poeta alemão, onde se lê que “livros são cartas dirigidas a amigos, apenas mais longas”, Sloterdjik busca entender os processos de humanização através da cultura literária. Mas pensemos em termos de FIG! No lugar de um “estabelecimento da amizade por meio da escrita”, pensemos no incentivo da fraternidade por meio da festa, de uma festa cultural, de uma festa que congrega o ser humano, que põe as energias psíquicas na direção dos valores que a cultura ensina: Solidariedade, fraternidade, filantropia, compreensão, senso crítico.
A bem da verdade, vivemos tempos de certa barbárie, com licença poética para o usar o termo sem problematizações necessárias, onde valores que servem para promover uma melhor convivência entre nós estão cada vez mais desprezados. O FIG é uma grande carta de amor que Garanhuns escreve para o mundo, onde podemos estabelecer a amizade por meio da cultura. Sim, parafraseando Sloterdijk, O FIG é uma carta dirigida a amigos, uma carta de humanização.
Uma festa capaz de criar um clima de fraternidade entre pessoas que no resto do ano vivem distantes umas das outras, mas que levam a mensagem dos valores humanistas depois da festa. Embora Sloterdijk tenha declarado a falência do humanismo como forma de contenção da brutalidade humana, é imperativo que continuemos tentando. O FIG é uma dessas tentativas, não é o produto final, o desembrutecimento humano, que deve guiar os esforços daqueles que têm amor pela humanidade. O próprio caminhar nesse sentido já é um esforço de vida válido.
Por isso acredito que o FIG nos deixa em estado de poesia. São dias e dias onde nos entregamos ao lúdico, ao amor à arte, uma sociedade que se cria através da valorização do fazer humano como espelho, onde nos enxergamos melhor. O FIG é uma carta de amor que escrevemos uns para os outros. Cultivemos essas cartas, vamos “escrever” essa história durante os dias do FIG.
A tentativa já é o objetivo alcançado, embora, como diria Fernando Pessoa, cartas de amor são sempre ridículas, é sempre bom constatar o que o mesmo poeta diz: “Mas, afinal, Só as criaturas que nunca escreveram Cartas de amor É que são Ridículas”.
Pedro Henrique Teixeira | App Guia do FIG
Comments